Nova paisagem no Congresso: mais telas e menos articulação
Humberto Dantas
24 de junho de 2019 | 12h00
*Texto de autoria de: Bianca Giacomazzi, Isabela Meza Palhares e Khalil Vettorazzo, pós-graduandos em Ciência Política pela FESP-SP, em série especial de análises.
Na realidade da nova política, as redes sociais ajudaram a eleger grande parte dos parlamentares que compõem a atual legislatura, sobretudo aqueles em primeiro mandato. Selfies, transmissões ao vivo e um número massivo de posts fizeram parte da estratégia encontrada pelos então candidatos para se destacarem e criarem uma relação mais próxima com o eleitorado. A ferramenta, porém, continua sendo utilizada com furor no Congresso Nacional. Tal cenário pôde ser acompanhado na penúltima semana de maio, quando a Câmara dos Deputados avançou com a medida provisória que reduziu o número de ministérios e remanejou órgãos federais – entre eles, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf. Na votação, o plenário estava tomado por parlamentares que prestavam mais atenção aos seus celulares e aproveitavam para atacar o Congresso e seus opositores – chamando-os de defensores da corrupção –, ao invés de alimentar um debate direto, a fim de estabelecer coalizões fortalecidas. Quem viu fotos aéreas do local tinha a impressão de que estava num show (de horror).
Contra-atacando tal realidade, o deputado Alexandre Leite (DEM-SP) protocolou a chamada CPI das “Fake News”, com o objetivo de investigar os ataques e a disseminação de ameaças contra autoridades. A comissão incomodou a apelidada “bancada da selfie” que, em sua maioria, é composta por partidários do presidente Jair Bolsonaro. O receio desses parlamentares é que a CPI faça parte de um movimento de perseguição, que visa a controlar seus comportamentos e expressões no ambiente virtual. Com isso, surge o questionamento: por qual razão combater notícias enganosas se trata de uma ameaça contra esses parlamentares? A comissão vem na esteira do chamado “decreto da calúnia”, lei sancionada por Bolsonaro que trata de punir com prisão quem ofende candidatos para cargos públicos. À luz do que vimos em 2018: isso faz sentido? Difícil dizer, mas tais gestos ainda são ilustrados pelo inquérito do Supremo Tribunal Federal que investiga as ameaças e ofensas aos magistrados da Corte – o episódio que colocou dois ministros no centro das acusações de censura contra um desconhecido blog. Aqui, todos parecem pretender “preservar as instituições” de um mar de notícias fraudulentas que poderiam “enfraquecer” o poder público. Tanto a CPI no Congresso, como a nova lei ou o julgamento no STF tratam de diferentes opiniões – verídicas ou não – feitas nas redes sociais ou o combate a tal aspecto que parece bem capaz de caracterizar a eleição de 2018.
Utilizando tal debate como cenário, o que parece vir à tona é uma reflexão sobre a articulação do governo: por um lado, deputados e senadores com seus celulares em punho no plenário podem ser encarados como parte da renovação trazida pela legislatura atual – e até um avanço para o que Bolsonaro chama de “nova política”. Por outro, é necessário observar que congressistas que se preocupam mais em cativar os eleitores ou em atacar quem não vota em comum acordo com eles, acabam atrapalhando o andamento de projetos considerados prioritários ao Planalto. Por mais que a aparente transparência ativista nas redes seja válida, quem escolhe o que avança ou não no Congresso são os representantes eleitos. Quais deles?
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